Educação Financeira

A complexa educação financeira

Texto de Gustavo Cerbasi
Escolas particulares do ensino fundamental adotam práticas de educação financeira há pelo menos uma década. Entre elas, estão debates sobre mesada, simulação de feiras e de bancos, visitas a supermercados, montagem de orçamentos e participação em desafios simulados de investimento em bolsa.
Agora, essa oportunidade chega ao ensino público. Após dois anos de projeto piloto da Estratégia Nacional de Educação Financeira – ENEF, concluiu-se que a educação financeira é transformadora para a vida dos alunos e de suas famílias. Isso motivou a inclusão da disciplina como conteúdo recomendado também nos currículos das escolas públicas estaduais e municipais, a partir de 2013.
É uma conquista e tanto para a sociedade, mas também um desafio enorme para a educação. Por mais interessantes e criativas que sejam as práticas já adotadas no ensino privado e que irão para as escolas públicas, é fundamental dosar a prática para que excessos não sejam cometidos.

Algumas das metodologias utilizadas, por exemplo, estimulam as crianças a estabelecerem metas ambiciosas, propagando a filosofia do “quero ser milionário”. Trabalhadores e empreendedores competentes em gerar excedentes de seus ganhos é interessante para a sociedade, mas é sabido que a diferença entre a desejada ambição e a reprovável ganância está na dose do desejo. Não é com lições de disciplina e matemática que se cria milionários, mas sim com filosofia e capacidade de resolver problemas e agregar valor ao trabalho.
Uma linha mais comum de metodologia de ensino é aquela que trata das ferramentas de organização e controle, incluindo a prática do orçamento, o ensino da matemática financeira, o entendimento dos juros nos investimentos e nas dívidas e o estímulo à comparação de preços. Em termos de aparelhamento para conscientização, tais métodos são eficientes. Porém, tendem a ser limitados quando a abordagem se restringe a identificar as vantagens de acumular dinheiro. O risco é o de transformar consumidores compulsivos em poupadores compulsivos.
Educar para o dinheiro não é condenar o consumo e doutrinar para a poupança. É estimular a organização pessoal para que desejos de consumo não extrapolem limites e se tornem insustentáveis. É exercitar a disciplina com o objetivo de ter qualidade de consumo por toda vida, e não apenas no futuro, como recompensa de sacrifícios presentes. Ferramentas de controle devem ser exercitadas, mas sem que sejam complexas e detalhistas. Devem ser simples, para que possam ser praticados cotidianamente e não consumam nosso tempo.
As boas práticas de educação financeira devem induzir a escolhas equilibradas. Isso se faz combinando referências matemáticas com práticas ambientais, sociais, filosóficas e éticas. Por isso, recomenda-se que a educação financeira seja uma prática interdisciplinar, e não uma disciplina específica no currículo. Se pais e educadores atentarem a isso, estaremos virando uma página na história do comportamento de consumo dos brasileiros.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *